25 de dezembro de 2022

O Melhor da Festa

O convite chegou totalmente de repente!
Foi uma absoluta surpresa abrir o computador, naquela noite, e encontrá-lo.
Afinal, tempos, meses, que ler e-mails já não fazia mais parte do meu cotidiano. Ficava semanas, tranquilamente, sem olhar. 
Mas, nesse dia, foi demais! 
Foi muito bom!!

Era para festa de aniversário de 70 anos de uma prima muito querida e que eu não encontrava há décadas. Prima especial, vizinha da infância mas que eu nunca ia imaginar que se lembraria de me incluir na sua lista de convidados.

Falo isto porque saí da minha cidade natal, Visconde do Rio Branco, interior de Minas, ainda aos 11 anos de idade. Nos mudamos para Brasília e, com o tempo passando, a vida na Capital foi me apresentando novos rumos e Rio Branco ficando cada dia mais longe de mim.

Mas a alegria de ver o convite foi estupenda!! 

E, antes mesmo de pensar em qualquer senão que me impedisse de ir, antes mesmo de consultar até a agenda da família, eu imediatamente confirmei presença respondendo: iremos, sim, lógico, Carlos e eu!!! 

Daí para a frente, passei a viver em harmonia diária com a velha frase de que: “o melhor da festa é esperar por ela”.

Assim foi...eu não conseguia pensar em outra coisa. O local seria em Aracaju, meados de junho de 2019, em pleno dia do mais famoso forró Nordestino!

Para completar, acreditem, o convite registrou bem claro que o tema seria uma volta aos anos 60: Movimento Hippie!!!

Maravilha!!

Seria a mais rara e especial oportunidade de poder usar, novamente, o vestido hippie, feito pela minha mãe e guardado, que estava, desde quando eu tinha 15 anos! 

Vejam só a coincidência!! Era mesmo para eu ir!

Passagens compradas, avisei à Prima que, carinhosamente, ainda se preocupou em “rechear“ um pouco mais o convite nos avisando que a hospedagem dos convidados de fora, os viajantes, seria na casa grande dela, de praia. 

Tem espaço para todos, disse!!

Eu bem que gostaria de aceitar mas criada com aquele excesso de cerimônia mineira, de mãe que teve 7, agradeci justificando que, para aproveitarmos o máximo, ficaríamos em Hotel.

Para compensar a minha “desfeita” ela avisou que, então, eu não escaparia de ser recepcionada por todos, no Aeroporto Internacional de Santa Maria, em Aracaju.

Adorei!!

O voo foi tranquilo. 

Quando o piloto avisou que iniciaria os procedimentos de descida, eu fiz questão de correr ao “toilet” para dar uma retocada final na maquiagem. Um pouquinho mais de batom... blush nas bochechas ... Meu marido ria, mas era importante caprichar no visual!! E como!! 

Com a ansiedade à flor da pele, fui a primeira, lógico, a descer as escadas já preparando aquele olhar 360 graus. 

Aprumei bem o corpo, levantei o pescoço e fui ...

Queria, num segundo, enxergar tudo e todos! 

Mas, pasmem, inacreditável, não havia, sequer, uma plaquinha, por mais simples que fosse, com nosso nome.  Tampouco mensagem no celular?!?

Mesmo contra minha vontade, braços e sorriso foram se fechando lentamente. E eu, não deu outra, morri de vergonha de mim.

Mas o vazio desta chegada, não imaginam, me trouxe a pior das dúvidas: será que acreditei demais naquele convite? 

Que exagerei nos sentimentos de saudades?

Que priorizei a vontade imensa deste programa acima do bom senso a tal ponto de só colocar, na mala, um único traje chique, de festa, o meu vestido hippie?? 

E agora, se ninguém corresponder ao “dress code”, anos 60? 

O quê que eu faço??

De Uber chegamos à casa da praia.

Bastou abrirem a porta para esquecermos, completamente, o vácuo da recepção no aeroporto. Eram tantos amigos chegando, tantos abraços fraternos e saudosos, tanto agito formando um verdadeiro mundinho mineiro em Aracaju, que acabaram distraindo a agenda da prima anfitriã que se esqueceu, até, de ir pegar a própria filha, no Santa Maria?!!! 

Foi perdoada!!!

De tarde, no continuar de entrada dos convidados, o clima já era de pura alegria, bem ao estilo Paz e Amor! E à noite, os parabéns foram num lindo clube todo decorado a propósito!

Não faltaram calças jeans; pantalonas boca de sino; batas indianas; barbas e cabelos longos presos por faixas coloridas; macacões jeans; óculos redondos enormes e até, acreditem, uma Janis Joplin perfeita para personalizar mais o ambiente e levar todos a se sentirem em plena juventude!!

Dentro de mim, então, me sentia orgulhosa e cheia de brilhos. Afinal, o vestido estava tão no ponto certo que indagavam se era novo.

A festa acontecia belíssima e parecia que não teria fim!! 

Tanto foi que, no dia seguinte, ainda continuou na praia. 

Em mesas distribuídas na areia, brisa leve, mar verde, estavam ali, todos os conterrâneos de novo reunidos para reviver a festa e, principalmente, recordar os velhos tempos.

E naquela de conversa vai e conversa vem, um primo me pediu para que eu lesse uma antiga crônica minha, na qual eu dava uma geral na infância. 

Mesmo surpreendida com o inusitado pedido, celular na mão, comecei logo a ler: 

 “...A cada crônica que escrevo sobre o Rio Branco percebo que saí dele faz muito tempo,             mas que ele não saiu de mim, jamais! Eu penso que ainda moro lá, na chácara da Mello Barreto, que vou acordar cedinho amanhã com o barulho dos bichos e abrirei as janelas para ver o terreiro coalhado de mangas Ubá, fresquinhas. 

E assim, nesta procura dentro do meu passado, eu, sem querer, sem qualquer planejamento ou despedidas, sem avisar sequer a mim mesma, comecei a viajar em lembranças e acabei me vendo, uniformizada, pasta de couro na mão, entrando no Grupo aos 7 anos de idade. 

A fila no Padre Corrêa era sempre por ordem de tamanho. 

Os braços tinham que ser esticados o máximo, para frente e lateral, até limitar, com absoluta precisão, a distância entre cada colega. Somente depois de perceber silêncio, harmonia e elegância de todos, é que Dona Yolanda Amim, a professora querida, começava o Hino Nacional... 

Mas, de repente, neste parágrafo da crônica, uma das convidadas, emocionada, se levanta e me diz: sou Graça Amim, D. Yolanda é a minha mãe!!

Não pude acreditar! Por segundos emudeci.

Como poderia imaginar tamanha coincidência? Mais ainda, perceber que ela usou verbo ser, no presente do indicativo, já me sinalizando que a professora estaria viva?!

Nem imaginava ter, dentro de mim, mais sentimento para acomodar tanta alegria! Inacreditável!  Todos se emocionaram!  Foi uma surpresa tão marcante, e extraordinária, que me fez voltar, em seguida, a Rio Branco, para abraçar a estimada Da Yolanda 57 anos depois do nosso último encontro, à época da minha formatura do primário.

Momento lindo!!!! Inesquecível!!! Foi O Melhor da Festa!!

E para todos os conterrâneos e amigos presentes, convidados da querida prima Moema, a festa não acabou!! Ficou para sempre, dentro de cada um de nós!!!

Publicado no jornal ''A nova Imprensa" de Visconde do Rio Branco/Minas Gerais-MG, Edição n. 130. 1.11.2021

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