Quanto mais quente
melhor ... nothing is perfect.
No meu mundo da infância , o universo parecia ter apenas dois “”pontos”” cardeais: direita e esquerda. Era tudo tão pequeno, tão de interior mineiro que esse sentido de lateralidade se aprendia antes mesmo da idade da razão e, daí para frente, mesmo andando sozinhos, estávamos no prumo e tudo dava certo.
Tudo era perfeito!
Os
pontos de referência eram poucos, mas da maior importância! E para seguí-los,
bastava eu atravessar o portão da minha casa, dar uma virada de corpo para um,
ou outro lado e caminhar para a frente. Não tinha mesmo como perder o
rumo.
A
esquerda, até q não me agradava tanto, era a saída de Rio Branco. Mas a direita??! Engraçado ... pode ser pura coincidência,
mas na geografia da minha cidade, ela sempre teve muito mais poder. A começar,
que na época, esse era o lado do mais significativo destino de todos: o destino
da fé. A Igreja matriz São João Batista se destacava no topo da praça e todos
os programas giravam em torno dela.
Para mim, então, vivendo na
quietude da chácara, chegar à Matriz nos fins de semana significava chegar ao
mundo inteiro! Enquanto a família assistia à missa das 8hs, eu encontrava
todas as crianças e ficava brincando no balaustre esperando a hora do programa
que eu mais gostava; a matinêe no Cine Brasil. Eu adorava!
E nada me faz esquecer o filme Quanto mais Quente Melhor!
Vestida de amarelo de broderi com lacinho de gorgurão na frente; sapato pretinho de verniz; conjunto de ban-lon herdado da prima Cristina; grapette e saquinho de pipoca, lá nos sentamos, mamãe e eu, na primeira fila.
Risos, nesse filme, foi o que não faltou! Quase ainda escuto nossas gargalhadas com a confusão do Jack Lemmon que, fantasiado de mulher para conseguir emprego, acaba vítima da paixão de um milionário que tudo faz para se casar com ele. Promete rios e fundos, faz planos para o casamento ... para a lua de mel ... para os filhos que terão...
E nada me faz esquecer o filme Quanto mais Quente Melhor!
Vestida de amarelo de broderi com lacinho de gorgurão na frente; sapato pretinho de verniz; conjunto de ban-lon herdado da prima Cristina; grapette e saquinho de pipoca, lá nos sentamos, mamãe e eu, na primeira fila.
Risos, nesse filme, foi o que não faltou! Quase ainda escuto nossas gargalhadas com a confusão do Jack Lemmon que, fantasiado de mulher para conseguir emprego, acaba vítima da paixão de um milionário que tudo faz para se casar com ele. Promete rios e fundos, faz planos para o casamento ... para a lua de mel ... para os filhos que terão...
Aflito, Lemmon tenta ainda
explicar de qualquer jeito, que não pode se casar com ele, que não pode aceitar
nada disto e mais do que tudo, que não pode messssmo, porque é homem!!.
Embevecido de paixão, o
apaixonado não se espanta e responde com a maior naturalidade: nothings is perfect
... e continua com seus planos!!!
Saímos do cinema e seguimos rindo pelo caminho de
casa. E até hoje, percebo, o Quanto Mais Quente
Melhor não me saiu de cena!!
Todas as vezes, enquanto pude, que reclamei da vida para a
minha mãe ela me fazia voltar ao filme, por menos cômico que fosse meu
problema. Eu dizia: mas como isto foi acontecer, mamãe? Eu pensei em
tudo com detalhes ..., eu programei da melhor forma... eu procurei o
melhor script para que fosse completamente um happy end ... Ela, bem sábia e experiente de tantos anos vividos na base
dos ups and downs me olhava, fazia um compreensivo balançar de cabeça e me
consolava da forma mais alegre:
Elzinha, lembre-se para sempre: nothing is perfect!!!
“Les grandes et pures affections ont cela de beau, qu'après
le bonheur de les avoir éprouvées, il reste le bonheur de s'en souvenir.”
Alexandre Dumas!!!
Publicado no jornal ''A nova Imprensa" de Visconde do Rio Branco/Minas Gerais-MG, Edição 138, de 6.7.2022.
Publicada no blog "Maria Cobogó" em 16.8.2021 - https://mariacobogo.com.br/nothing-is-perfect/
Publicado no Jornal da ANE (Associação Nacional de Escritores), Edição n. 90, de novembro de 2018. https://www.anenet.com.br/wp-content/uploads/2018/11/Jornal_ANE_90_ANE_impressao.pdf